O endividamento das famílias que contrataram o Crédito do Trabalhador aumentou 80% em 5 meses. O saldo das operações de crédito subiu de R$ 18,4 bilhões em fevereiro para R$ 33,1 bilhões em julho. Os dados são do Banco Central (BC).
Eis a íntegra do relatório.
Criado para aprimorar o crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, o Crédito do Trabalhador atinge os trabalhadores que têm renda baixa, têm menor instrução, pouco tempo de empresa e taxa de endividamento mais alta. Além disso, o público é alvo de taxa de juros maiores.
A taxa de endividamento corresponde à razão entre saldo de dívidas em modalidades de crédito livre exceto cartão à vista e 12 vezes a renda mensal do trabalho formal.
Os dados do Banco Central indicam que o Crédito do Trabalhador pode comprometer a renda das famílias e aumentar a inadimplência. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou a modalidade para permitir que brasileiros trocassem dívidas caras, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, por outros empréstimos mais baratos.
O Banco Central declarou que houve uma “pequena redução” do endividamento em modalidades de alto custo. “Essa redução, entretanto, foi momentânea na amostra observada, como o saldo voltando a crescer nos meses subsequentes”, disse o relatório.
Crédito do trabalhador
O Crédito do Trabalhador implementou regras para o crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, no qual já permitia o pagamento das parcelas com o desconto diretamente na folha de pagamento. As instituições financeiras já resgatavam os recursos com a intermediação das empresas do contratante da operação.
Lula ampliou o leque de clientela desde fevereiro deste ano. As mudanças permitiram o acesso ao financiamento para trabalhadores com outros vínculos formais, como trabalhadores rurais e empregados domésticos. Em caso de demissão, a consignação voluntária do salário será redirecionada para outros vínculos empregatícios, mesmo que surjam posteriormente à contratação da operação.
Como garantia, a pessoa poderá colocar a multa rescisória e o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para quitar parcelas em caso de inadimplência. O objetivo do governo Lula era reduzir as taxas para os trabalhadores.
Endividamento
O crescimento do endividamento dos brasileiros contratantes do Crédito do Trabalhador foi superior ao registrado no crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada –que exige convênio entre empresas e bancos para a oferta do empréstimo. Enquanto o estoque subiu R$ 14,7 bilhões no novo regime, o volume subiu R$ 13,6 bilhões na modalidade mais antiga.
O Banco Central disse que, de março a julho, foram 3,0 milhões de contratos de crédito consignado privado, sendo que 2,3 milhões foram do Crédito do Trabalhador. As concessões atingiram R$ 21,9 bilhões no período, sendo que R$ 13,6 bilhões são referentes ao novo consignado.
O Banco Central disse que o crescimento expressivo das concessões, de R$ 13,6 bilhões, tem efeito “limitado no comportamento do crédito bancário agregado” quando considerado todas as modalidades de crédito a pessoas físicas com recursos livres –aqueles negociados no mercado.
Taxas de juros
O Banco Central disse que as operações do novo consignado são mais caras do que os empréstimos consignados dos convênios. A taxa média do Crédito do Trabalhador atingiu 58,0% ao ano nas operações contratadas até o final de julho.
No mesmo período, a taxa média do consignado baseado em convênios (regra anterior) era de 36,2% ao ano antes de março.
O aumento do custo está relacionado ao perfil do tomador do crédito e da empresa em que ele trabalha. O Banco Central cruzou os CPFs dos contratantes com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) para verificar se a empresa é de menor porte. Constatou que, com o Crédito do Trabalhador, o tempo de empresa é menor do que dos convênios do crédito consignado. Além disso, verificou-se que a renda é inferior.
A autoridade monetária disse que há uma associação entre o porte do empregador e a percepção de risco do crédito pelas instituições financeiras. “Nas concessões do consignado por convênio, os resultados não indicam relação tão clara entre porte do empregador e taxa de juros”, disse.
A mediana da renda cai de R$ 2.925 para os convênios do crédito consignado para R$ 2.603 nas regras do Crédito do Trabalhador do governo. Além disso, há um menor percentual de pessoas com ensino médio ou superior.
O que dizem os especialistas
Os economistas avaliam que há riscos do aumento do endividamento se os contratos não forem utilizados com responsabilidade. A expectativa é de maior comprometimento da renda das famílias e, consequentemente, inadimplência maior.
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Serviços, Bens e Turismo (CNC), Fabio Bentes, disse que o crédito consignado é uma excelente modalidade para troca de dívidas caras por dívidas baratas. O juro médio do rotativo do cartão de crédito, por exemplo, atingiu 451,5% ao ano em agosto, bem acima da modalidade do Crédito do Trabalhador.
“O problema não é a linha de crédito em si, é como o tomador vai se comportar em relação ao crédito. Se ele utilizar para se endividar ainda mais, pode até virar uma bomba-relógio. Mas a gente é sempre a favor da modalidade de crédito a juros menores”, declarou o especialista.
Do Poder360
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